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A Filosofia vai à praça
"Quando perdemos o diálogo, perdemos também o contato com o outro, com o parente e com o desafio de pulsar nosso espírito em intenção do novo"
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Filosofia, como bem se sabe, teve em sua origem uma relação íntima com a cidade (pólis). As pólis eram lugares de encontro, onde as práticas do debate (e do embate) nas praças e assembleias públicas têm sua fonte no diálogo que oferece o pasto nas contradições entre os indivíduos que fecundam uma aliança constituída através de saberes.
Nós por vezes perdemos esse fio do diálogo, próprio das sociedades gregas clássicas que por ventura nos amaldiçoa a repousar no que é fácil, comum e igual. Perdemos nesta modernidade a capacidade de indagar o erro, de observar fecundo e navegar construtivo por entre o que nos aparece tão idêntico.
Quando perdemos o diálogo, perdemos também o contato com o outro, com o parente e com o desafio de pulsar nosso espírito em intenção do novo. Assim é um encontro filosófico: a dimensão do movimento, da busca, da inquietação, da angústia de querer entender o que nos cerca de maneira tão velada ou obtusa.
Nesta clareira tentamos visualizar por que muitos de nossos estudantes e outras mentes voluptuosas não entendem o quanto as questões filosóficas podem partir da realidade concreta e estar vinculadas aos problemas do cotidiano. Se a filosofia empodera-se com o diálogo constituído na praça, como não encontrar ali a matéria fina para o filosofar? Por isso, vejamos:
A Filosofia, na Grécia, era uma atividade realizada ao ar livre. Nas ruas, em contato com o hodierno e com todo o quanto que existe e se encontra posto por toda volta.
Contudo, nos dias atuais, muitos das informações e conhecimentos circulam em redes de computadores. Composto por vários dispositivos, tais como hipertextos, hipermídias, downloads e outros mecanismos de aquisição de matérias e que com sua riquíssima fonte de acesso a conteúdos, anúncios, ilustrações, intercursos, conexões e outros aperitivos que circundam do categórico ao estético, atravessam o ser humano em todas as suas direções e contramãos.
Pensemos então como no momento pandêmico tão obscuro e tão delicado pelo qual toda a humanidade se fundou, no qual as pessoas viram-se obrigadas a ficar presas em suas casas, longe de aglomerações; deslocando os apertos de mãos e os abraços afetuosos por um uso constante de máscaras e afastamentos sociais. Lembremos que a filosofia é um modo de pensar e atuar que se constrói com o diálogo. Antes, nas praças e assembleias. E hoje, qual espaço lhe é reservado? Eis que ocorre o primeiro rompimento com a praça, quando deslocamos o campo de fomentação para um quadrado luminoso, que se sobrepondo a outro quadrado luminoso abalizado por logaritmos que se firmam em fontes de informação certificas, fazem-se a fenda para todo o saber.
Outro tema bem constante e desafiador para o pensamento humano e que costuma despertar conflitos e causar polêmica tanto sobre o ponto de vista interno – a crença, quanto o ponto de vista externo — a etnocentria, versam nos conflitos tributados a oposição entre "fé e razão", e isso pode ganhar um sentido mais vivo quando levantamos as inúmeras religiões com seus fundamentos violentos, vertentes e suas práticas ritualistas de adoração, que via de regra nos empurra para um abismo de inquietações.
Esse aspecto da vida tão próprio aos seres racionais aponta para um dado inerente ao homem: que é o seu medo da morte e diante deste projétil eis que a realidade nos mostrou o obituário de quase 15 milhões de pessoas em todo o mundo, (estimado pela OMS) em função de um vírus que nem a ciência e nem a religião nos apresenta apostila. E a dinâmica do conflito acentua-se mediante o escopo da cura que transitam, ou pela racionalidade que nos abençoa ou através das premonições das crenças do senso comum.
E se quisermos ainda nesse momento de ruptura com a praça, adentrar por uma floresta mais densa a nosso pensar critico e perceber que o desastroso produto atual desse estado pandêmico, inclusive ambientais e humanas, são em uma nuvem de números, as consequências do brutal capitalismo, encontraríamos a clareira que ja se encontra tão devastada pela comunicação midiática das grandes estruturas e já colocada ao banquete de todos.
Em uma distopia, poderíamos imaginar tanto os operários perdendo seus empregos, tantos autônomos amedrontado a respeito da sua renda, quantos empresários e ou profissionais de alta patente pensando em seus benefícios. O capital o pino base do motor principal da engrenagem da maquina ( como bem poetizou Trindade) chamada civilização move-se sobre outras alavancas: a economia parou frente ao vírus, estruturou-se outras formas de mobilizar o capital que gira por entre dedos digitais, com serviços online que circula entre os delivery e pixpag.
Diante de um mundo moderno tão caoticamente abalizado surge novas maneiras de portar, relacionar, economizar, comunicar e pensar. Eis nesse frenesi daltônico de vida evolutiva pósmoderna há espaço sim para se pensar filosofia.
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