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"A morte não costuma mandar aviso prévio". Mas, às vezes, manda
Levemos a sério ou não, o fato é que Jair Bolsonaro exala por todos os poros muitos sinais de que pretende endurecer o regime. Talvez não tenha a capacidade de sedução de Ramon Mercader para conquistar a confiança dos que sua imaginação assassina pretende eliminar.
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Política | Por *Landim Neto. "A morte não costuma mandar aviso prévio. A imaginação assassina ultrapassa os limites da lógica e do razoável". Estas frases estão no livro "Batismo de Sangue" (1982), de Frei Betto, frade dominicano progressista.
O intelectual religioso utiliza-as para se referir à morte de Leon Trotsky, assassinado em 1940, no México, por Ramon Mercader. Mercader era agente estalinista e conseguiu se infiltrar na casa de um dos principais líderes da Revolução Russa de Outubro de 1917, após conquistar a confiança deste. Continua, após o anúncio.
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Mesmo depois de dar alguns sinais de que poderia ser de fato quem era — um assassino político —, Mercader não foi percebido por Trotsky nem por seus seguranças como o perigo iminente que representava. Por isso, em meio a uma conversa amigável entre os dois, o infiltrado puxou uma picareta de dentro de uma capa e a enterrou de forma fatal e cruel no crânio do velho e brilhante dirigente comunista.
Em tempos mais recentes, Jair Bolsonaro também tem dado sinais — bem diretos, inclusive — de que possui uma imaginação assassina que ultrapassa os limites da lógica e do razoável. Em vídeo que circula no You Tube, falou em "matar uns trinta mil, inclusive alguns inocentes". De forma aberta e raivosa, pregou ainda o assassinato do ex-presidente FHC. Mas ficou por isso mesmo.
Como Presidente da República, Jair Bolsonaro não hesita em promover um dos maiores genocídios da História do Brasil, relativo à pandemia de Covid-19, tratada por ele com descaso para muito além de criminoso. Vídeos o mostram imitando com deboche uma pessoa que morre por falta de ar, e fazendo piada — macabra — dos contaminados pelo coronavírus. Punição? Nenhuma. Muito pelo contrário. Continua, após o anúncio.
Jair Bolsonaro também não cansa de elogiar o torturador Brilhante Ustra, seu herói covarde e sanguinário de capa e espada. E está sempre a falar em resgatar um país autoritário aos moldes — ou pior — do que se instalou por aqui em 1964. Não à toa, ontem (10), pôs tanques de guerra para desfilar pelas ruas de Brasília. Alguns creem que isso foi só uma demonstração de fraqueza.
Levemos a sério ou não, o fato é que Jair Bolsonaro exala por todos os poros muitos sinais de que pretende endurecer o regime. Talvez não tenha a capacidade de sedução de Ramon Mercader para conquistar a confiança dos que sua imaginação assassina pretende eliminar.
Caso seus desejos autoritários prevaleçam, contudo, isto representará um perigo real a muita gente, em particular aos dirigentes da esquerda. "A morte não costuma mandar aviso prévio". Mas, às vezes, manda. E é só o que Jair Bolsonaro tem feito. É preciso mais cuidado com os avisos que ele dá. Leon Trotsky certamente teria tido um outro destino se tivesse sido atento em relação a esse tipo de coisa.
*Landim Neto é editor do Dever de Classe
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