Isolados juntos, certamente também na cadeia
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inal dos anos 1960, primeira metade da década posterior, grande São Paulo. No enredo, dia a dia de retirantes nordestinos que foram tentar ganhar a vida na maior metrópole brasileira, já àquela altura uma das gigantes do mundo. Como personagens principais, o poeta cordelista Deraldo, que vive de suas poesias no centro da capital paulista, e o operário Severino, empregado de uma grande multinacional norte-americana. Ambos encenados por José Dumond. E na direção e roteiro, João Batista de Andrade. O Homem que virou Suco (1980), disponível gratuitamente no You Tube, explica bem quem foi Antônio Delfim Netto, o economista signatário do AI-5 e agente do terrorismo econômico na ditadura militar brasileira (1964-1985).
Delfim Netto morreu nesta segunda-feira (12). Sua morte provocou, como era de se esperar, reações diversas. Por um lado, louvação pela grande mídia capitalista e "reconhecimento de sua inteligência" por setores da esquerda. Por outro, a verdade por quem de fato sabe que o "czar da economia", peso-pesado de militares e "camaleão da política" — não era lá flor que se cheirasse. É impressão minha ou o Brasil está mais leve desde ontem?
Voltando ao Homem que Virou Suco, o cordelista Deraldo é caçado pela polícia ao ser confundido com Severino, após este assassinar seu patrão, logo nas cenas iniciais do drama. Fato ocorreu no dia da entrega da famosa medalha Operário Padrão, prêmio inventado pela ditadura para homenagear trabalhadores que não se metiam em lutas sociais, sobretudo por salários. Motivo do assassinato: o dono da multinacional, através de promessas e mentiras, induziu Severino a entregar seus colegas, que planejavam uma luta por salários.
Após a deduragem, o peão ficou desmoralizado, perdeu a serventia e foi mandado embora, de modo que quando foi receber a tal medalha já não tinha mais emprego, era só um a mais sem esperança, no meio de uma cidade gigantesca. Daí a revolta fatal contra o patrão que o enganou. Conseguiu fugir da polícia e passou a viver escondido.
A partir do assassinato, o poeta rebelde, que até então decidira não se submeter à estafante rotina de trabalho dos operários paulistas — teve de largar as ruas onde vendia seus escritos e correr atrás de emprego, para também tentar se esconder das forças policiais. A experiência é dura, duríssima. Pelos postos que passou, só humilhação, preconceito, péssimas condições laborais, tentativas de lavagem cerebral e salários aviltantes, num tempo em que reclamar do patrão era crime, apesar de o PIB do país estar nas alturas.
Em tal época, quem era o agente da burguesia que determinava a política econômica nacional? Ele, ele mesmo, o recém-falecido Antônio Delfim Netto. Delfim Netto, ministro da Fazenda entre 1967-1974, chegou ao extremo de manipular dados econômicos para impedir que os trabalhadores tivessem pelo menos a inflação real reposta, passando inclusive por cima da legislação vigente de então, sob o comando militar.
Não à toa, o peso-pesado da ditadura assinou o criminoso Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1968, instituto que autorizou a perseguição e tortura a todos e todas que ousassem enfrentar a tirania vinda da caserna, em particular quando pusessem em xeque a política econômica em vigor. Ativistas de esquerda, Aderaldos, Severinos, todos que discordassem do regime poderiam ir parar no pau de arara ou em algum cemitério clandestino.
Esse legado do qual Delfim Netto fez parte não pode ser esquecido. Até porque, como "czar da economia", só impunha castigos aos trabalhadores, tal qual o "paizinho" da velha Rússia czarista. E como "camaleão da política", de fato sabia se equilibrar de acordo com suas próprias conveniências, daí ter passado de títere dos militares a "apoiador" de Lula e Dilma para, em seguida, defender o golpe que derrubou a presidenta e levou o maior líder popular do país à cadeia. Creio que está mais para escorpião, pois nunca negou sua natureza de sagaz direitista.
No desfecho do filme, Aderaldo consegue provar sua inocência e voltar às ruas, desta vez para vender seu novo livro: O Homem que Virou Suco, no qual aborda o caso de Severino, triturado por uma espécie de liquidificador capitalista que continua a transformar em suco milhões em todo o planeta.
Era em ajudar a transformar trabalhador em suco que Antônio Delfim Netto se inspirava e era especialista. Com todo respeito, por mim já foi tarde.
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