Incel, a ridicularização que leva à morte em Adolescência, série Netflix
Cientista Social e Historiador, o professor Evannoel Lima faz brilhante análise sobre uma das séries de maior sucesso em 2025 até aqui

Por Evannoel Lima, Historiador e Cientista SocialAtualização: 21 de abril, às 10:33
cabo de ver a série chamada Adolescência. Drama é sobre um crime cometido por um adolescente contra uma jovem. Um garoto impopular na escola que sofre bullying nas redes sociais, principalmente da garota vítima do assassinato.
A ridicularização é específica e gira em torno do seu fracasso em conseguir namorar. Logo, o termo pejorativo surge como significante explicativo da trama, incel, trata-se da estigmatização de alguém como celibatário involuntário.
As redes sociais como potencializadoras do Bullying. Um garoto de 13 anos, desajeitado, fora dos padrões de beleza, ridicularizado desde muito criança por não saber praticar esportes, por ser esquisito comete um assassinato com extrema violência contra uma jovem que praticava brincadeiras ofensivas nas redes sociais.
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Podemos perceber uma nova subjetividade forjada na internet. Um garoto solitário cuja marca de personalidade é a diferença, uma singularidade violentada simbolicamente por todos os cantos. Uma subjetividade narcísica e desconectada dos grupos e das instituições família e escola. Como um estranho nesses lugares tão familiares, a subjetividade narcísica desse garoto conseguia abrigo apenas nas redes sociais. Na tentativa desesperada de garantir visibilidade, era alvo de bullying de uma garota. Em meio aos conflitos da adolescência e na tentativa desesperada de ser amado, acaba golpeando com sete facadas a vítima que era sua algoz no Instagram.
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Ora, desde Freud sabemos que o narcisismo é um recurso psíquico necessário para construção da subjetividade e defesa contra ansiedade, ódio e angústias sofridos pelos objetos perdidos. As atitudes narcisistas são carregadas de ódio e angústias e isso explica o crime hediondo cometido pelo protagonista da trama.
O crime revela uma reação das subjetividades contemporâneas hiperindividualizadas contra as violências simbólicas de uma sociedade que não acolhe as diferenças. Esses são os efeitos nefastos da razão neoliberal que destrói tudo quanto é de coletividade e produz hipertrofia individualista sem referências simbólicas que possam dar segurança psíquica. O indivíduo responsabilizado por tudo, sem seguranças sociais torna-se um vulcão pronto para explodir.
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