No capitalismo, os trabalhadores produzem de graça para os patrões e a maioria não sabe disso!
DA REDAÇÃO | Após um exaustivo dia de trabalho, é bastante comum a frase, sobretudo entre os que atuam diretamente na produção de riquezas em fábricas ou afins: "Estou muito cansado, mas garanti por hoje o meu salário". No outro dia ele retorna e sai novamente com a mesma sensação. E isto se repete durante todo o mês ou o tempo de vida que permanecer empregado.
O que a ampla maioria dos trabalhadores não sabe, contudo, é que somente uma parte desse seu sentimento de dever cumprido está amparada em algo, por assim dizer, justo em relação a ele mesmo. É que para garantir seu pagamento (não importa quanto), todo assalariado trabalha somente uma determinada quantidade de horas por dia, semana ou mês do total de horas que contratualmente tem que cumprir. A outra parte do tempo (sempre bem maior do que a necessária para garantir seus proventos), ele dá de graça ao patrão.
Tentemos explicar melhor com um pequeno exemplo. Vamos supor que Pedro trabalhe numa indústria fabricante de celulares e ganhe o "bom" salário de dois mil reais, ou seja, mais do dobro do vergonhoso salário mínimo atual brasileiro, de apenas R$ 937,00. Vamos supor também que a jornada do nosso trabalhador seja de 44 horas semanais, tal como também vergonhosamente se impõe no Brasil. Se multiplicarmos esse tempo (44 horas) pelas quatro semanas úteis de trabalho geralmente adotadas em nosso país, teremos uma média mensal de 176 horas a serem cumpridas.
Pois bem. O patrão de Pedro, junto com seus gerentes & cia, calculam milimetricamente quantas horas de produção dessas 176 serão necessárias para bancar o salário de Pedro, custos operacionais e todas as obrigações (impostos em geral) advindas de seu contrato com a empresa. É óbvio que o objetivo desse ou de qualquer outro patrão não é empreender para garantir obrigações trabalhistas. Pelo contrário, o que todos visam mesmo é o lucro.
Por conta disso, o tal patrão deve obrigatoriamente impor na fábrica uma dinâmica de trabalho, leia-se, exploração, que leve Pedro a produzir, sempre num tempo mínimo de horas, a quantidade de celulares que, lançada ao mercado, assegure o pagamento e todo os encargos da contratação do mesmo, sejam seus salários ou impostos. Dessa forma, se Pedro produz em, por exemplo, 50 horas a quantidade necessária de aparelhos para que seus rendimentos e direitos sejam garantidos, as outras 126 restantes ele passa a cumprir (sem saber) de graça para o patrão. Simples assim.
Se essa fábrica tem, digamos, cem trabalhadores em ação nesse mesmo rítmo, isto significa que 12.600 horas de trabalho gratuito são ofertadas mensalmente ao patrão. É o que, segundo Marx, se chama "extração de mais-valia", isto é, o trabalho excedente que o trabalhador dá de graça ao patrão. Não à toa ele (patrão) consegue comprar carrão, mansão, avião... E o trabalhador... Bem, no geral todos sabem o que ocorre com ele...
É claro que o patrão nunca vai explicar isso para o trabalhador. E tampouco se aprende isso nas escolas. Através da ideologia de quem domina de fato a sociedade, ou seja, o patrão, se aprende é que "somos todos iguais e que, com o suor do trabalho, sempre se consegue vencer na vida e até virar patrão".
É preciso compreender, contudo, que o patrão não engana e explora o trabalhador porque seja ganancioso ou tenha má índole. O patrão explora porque essa é a lógica da sociedade burguesa e do capitalismo. Se o patrão for "bonzinho" com o trabalhador e não obrigá-lo a cumprir uma jornada diária estafante de produção, ele (patrão) vai à falência. E aí o velho sistema quebra.
Grosso modo, a extração de mais-valia é a base da famosa exploração capitalista. E só é possível erradicá-la, infelizmente para os capitalistas, reformistas de esquerda, humanistas e sonhadores, com o fim do próprio capitalismo.